segunda-feira, novembro 19, 2012

Ruby Sparks

Quem é escritor ficará encantado pelo primeiro ato de Ruby Sparks.
A começar pelo prólogo do filme, que faz todo uma preparação apenas para levar Calvin, Paul Dano, a congelar diante de uma página em branco.
Só aí o filme já me conquistou.
Calvin é um escritor genial, escreveu um livro de grande sucesso ainda muito novo e que agora sofre de bloqueio criativo. Até que seu terapeuta o passa uma tarefa, escrever uma história em que ele conheça uma pessoa através de seu cachorro.
Então, em um sonho, Calvin conhece o amor de sua vida (ou a literal garota dos sonhos, mas seriam trocadilhos demais de uma só vez) e passa a escrever sobre ela, a tal Ruby Sparks (Zoe Kazan, neta de Elia Kazan e roteirista do filme).
E é aí que o filme encanta, nos momentos em que Calvin descreve/escreve sobre Ruby. São nos sonhos e na escrita dele que o filme ganha vida, em oposição ao ritmo aborrecido de sua vida real.
Dirigido pela mesma dupla de Pequena Miss Sunshine, o aborrecimento do "real" pode muito bem ter sido uma opção consciente dos diretores, ao contrapor a monotonia de Calvin com a vida que Ruby o tráz.
Mas isso é só o primeiro ato. O filme só começa realmente quando algo fantástico acontece, Ruby ganha vida e se torna uma pessoal real. Não simplesmente uma manifestação da imaginação de Calvin, mas uma garota de carne e osso, capaz de interagir com as outras pessoas na vida do protagonista.
E então o filme se perde, ao seguir o caminho de uma comédia romântica comum, sem muitas inovações.
É, porém, uma comédia romântica das boas. Ruby Sparks não é um daqueles filmes água com açúcar, que não leva a lugar nenhum e que você só assiste porque foi obrigado pela namorada.
Ele está mais perto dos filmes que se pretendem renovar e dar um novo fôlego ao gênero, como 500 Dias com Ela ou Hora de Voltar (esse muito superior aos outros dois).
O problema é a maneira inorgânica com que a roteirista iniciante oscila entre o realismo fantástico e a comédia romântica, a sua inabilidade em criar situações cômicas e a maneira completamente artificial com que as situações e os personagens se desenvolvem.
Ruby, a personagem inventada, é mais real que qualquer personagem coadjuvante, que teoricamente seriam "de verdade", e que não chegam nem ao status de caricatura. Por mais que seus intérpretes tentem os dar vida, não há muito o que se possa fazer. E Zoe falha tentar seguir a receita do gênero que ela mesma escolheu.
Ruby, ao ganhar vida, morre.

sábado, novembro 17, 2012

Looper

Pelo menos uma vez por ano eu revejo A Ponta de um Crime. É um filme subestimado e pouco reconhecido. É um frande filme em todos os aspectos, é muito bem dirigido, magnificamente bem escrito e extremamente bem atuado (o que é particularmente digno de nota, já que todo o elenco é adolescente).
A cada vez que revisito o filme eu descubro algum novo detalhe, alguma pequena cosia que eu não havia percebido nas outras vezes. Apenas os bons filmes permitem isso.
O filme é rico e complexo, mas ao mesmo tempo despretensioso.
Por isso que eu estava extremamente ansioso para assistir Looper: Assassinos do Futuro, do mesmo diretor e roteirista Rian Johnson.
Não só por ser escrito e dirigido por ele, já que ele fez um filme medíocre entre os dois, mas por trazer uma intrigante premissa de ficção científica que já havia me atraído por si só.
E Looper é um puta filme (esse é o termo técnico), não só uma puta ficção científica. Pelo menos depois que você supera a maquiagem que Joseph Gordon-Levitt usa para se parecer mais com Bruce Willis.
Apesar do subtítulo nacional, Loopers não são assassinos do futuro, são assassinos do presente (que no caso é o nosso futuro) especializados em matar alvos do futuro, que são enviados 30 anos ao passado (o presente da história) para serem eliminados sem deixar rastros.
Com um detalhe macabro, quando o chefão resolve encerrar seu contrato ele envia sua versão 30 anos mais velha ao passado para ser assassinado por si mesmo.
Quando chega a vez de Gordon-Levitt matar sua versão 30 anos mais velha, Bruce Willis, as coisa ficam um pouco mais complicadas.
O diferencial de Looper é que ele não deixa a ação, e a caçada que o filme se torna, jogar fora as implicações e reflexões geradas pelo sempre complexo tema da viagem no tempo.
As ficções científicas ultimamente apenas usam seu conceito como desculpa para fazerem um filme de ação, para logo depois deixar de lado qualquer questão ou consequência levantada no início. Pouco importando aquilo é ou não uma ficção científica, se se passa no futuro, se possui gadgets super tecnológicos, para apenas retratar explosões em sequência.
Ou não se mantém a altura das promessas embutidas na premissa (oi, Prometheus).
Looper não faz uma coisa nem outra. É um filme corajoso, que não foge às implicações de sua premissa, mesmo que isso leve a um final pouco atraente comercialmente.
Sem nunca deixar de ser um atrativo filme de ação.
Com uma atenção aos detalhes digna do diretor de A Ponta de um Crime, por mais que viagens no tempo sempre deixem uma série de buracos, o filme se sustenta excelentemente bem o tempo todo. E merece múltiplas visitas.
Tecnicamente o filme é belíssimo. Não só a fotografia, mas o design de produção e os efeitos visuais, que fazem daquele futuro algo real.
As atuações são todas impecáveis. Desde os veteranos, até os remanescentes de A Ponta de um Crime.
Mas, finalmente, eu chego no motivo principal de eu escrever essa resenha.
Se não tivesse nenhuma dessas qualidades que eu acabei de descrever o filme todo valeria a pena mesmo assim devido a uma única sequência.
A rápida sequência que conta a transformação de Gordon-Levitt em Willis é linca, poética, triste e dramaticamente carregada.
Como a sequência em animação em Harry Potter e as Relíquias da Morte parte 1, que rouba a cena por sua beleza. Ou como a sequência de Up, que conta uma vida em poucos minutos.
E mais uma vez Rian Johnson teve um filme que foi menos apreciado do que deveria, recebendo bem menos atenção que o inferior, mas mais pretensioso, Prometheus.

quarta-feira, novembro 07, 2012

O Balão Amarelo


Um parque. No parque, um balão amarelo.
Não um balão de ar quente, um balão de festa.
Um balão de festa gigante, do tamanho de um balão de ar quente.
Um balão de festa gigante amarelo flutuando no parque preso a uma longa corda.
As pessoas formavam uma fila em frente ao balão, se revezando para subir nele, presos à corda.

Eu entrei na fila.
Estava fascinado pelo balão amarelo.
Aguardava ansiosamente enquanto chegava mais perto do balão.
Eu subi no balão e ele subiu cerca de trinta metros, até ficar preso a uma árvore.
Árvores gigantes de mais de trinta metros de altura, logo atrás do balão de festa gigante amarelo.

A corda se rompeu.
Eu continuei preso ao balão amarelo.
No chão, as pessoas olhavam para cima estupefatas. 
O balão amarelo subia sem parar, eu olhando para o chão apavorado.
Logo eu estava a centenas de metros do chão, não podia mais distinguir as pessoas, o parque, nada.

A corda se rompeu.
A corda que me prendia ao balão se rompeu.
Eu caia velozmente, o chão cada vez mais perto, eu desesperado.
Sobre mim, o balão de festa gigante amarelo continuava a subir descontrolado.
Sob mim, o chão cada vez mais próximo. Logo eu novamente distinguia o parque, as pessoas no chão.

Desespero.
Um paraquedas se abre.
O que era uma queda para a morte se torna uma lenta descida.
As pessoas no chão respiram aliviadas, eu respiro aliviado e aproveito minha viagem.
Chego ao chão, tiro o paraquedas, as pessoas me felicitam, eu entro em uma casa e tomo refrigerante.