quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Eu...

“Eu…”
E não pode dizer mais nada.
Não que houvesse algo a ser dito.
Mas...
Não que ele quisesse ter sido particularmente prolixo.
Mas “Eu...”?
Foi pego de surpresa.
Isso se pode dizer.
A situação não requeria palavras.
Isso era fato.
Mas...
Ação.
Isso ele poderia ter feito.
Não fez.
Nunca se perdoaria por isso.
Mais que a falta de palavras.
Mas “Eu...”?
Palavras de um corno.
Isso ele era.
Corno.
Talvez devesse esperar por isso.
Talvez.
Inação era seu nome do meio.
Não o da esposa.
Ele não a culpava.
Mas...
Não culpava por querer outro.
Culpava por não ter dito.
Ele era o covarde.
Não ela.
Não?
Talvez devesse ter dito algo.
Mas “Eu..”?
Talvez.
Quem sabe agora seguiria em frente.
Quem sabe pudesse algo.
Nunca podia.
Nunca pôde.
Mas...
Ele só queria voltar.
Não para a esposa.
Antes.
Qualquer antes.
Talvez fosse isso.
Ele sempre só quis antes.
Mas “Eu...”?
Escreveu uma carta.
Pôs no correio.
Era o fim.
Fim.
Era o começo.
Feitas as malas, entrou no carro.
Andava pra trás.
Mas...
Mas andava.