sábado, outubro 06, 2012

I Love Rabbits 2

De vez em quando eu vejo uma cena de um filme ou uma série que é tão... que eu só consigo dizer "uau, é por isso que eu amo cinema" e eu lembro porque eu resolvi fazer o que eu faço.
Não uma coisa grande, um grande roteiro e um grande diretor fazendo um grande filme, são pequenas coisas, que podem estar até mesmo na novela (mas é raro...).
Detalhes que fazem a diferença entre uma coisa qualquer e algo que vale a pena ser visto.
Coisas que, em alguns casos, a maioria das pessoas não percebem conscientemente, mas sentem.
Estou revendo Everwood e, no final de um dos episódios, estavam resolvendo duas situações dramáticas que haviam sido construídas ao longo dos últimos 3 ou 4 episódios.
Na primeira das cenas começou a tocar uma música dramática bem baixo, ao ponto de mal se poder ouvir. Isso por si só já é raro, afinal é televisão. No cinema você está, teoricamente, em uma sala escura com isolamento acústico e várias caixas de som potentes, já a televisão você assiste na sala, com a luz acesa, barulho de trânsito e com sua irmã mais nova ouvindo Justin Bieber no último volume no quarto. Não se pode se dar ao luxo de ser sutil.
No fim da cena, não por acaso na parte mais intensa da música, os dois personagens de abraçam e a câmera se afasta. Nesse momento você esperaria a música aumentar e tomar conta da cena, levando o espectador às lágrimas, não porque a cena é emocionante, mas porque a música está indicando isso.
Não foi o que aconteceu, a música continuou baixa.
O que é mais raro ainda, mesmo no cinema. A música deixou de compor a cena, de servir para acrescentar à construção e passou a ser uma simples bula de emoções, "chore aqui", "esse momento é divertido", "fique com medo", uma forma de cobrir a preguiça do realizador.
Corte para a próxima cena.
A mesma música continua, ainda baixa.
A situação se desenrola até chegar no clímax do episódio, o momento mais dramático, em que uma das personagens diz que vai fazer o exame que dirá se ela tem a doença que a fará morrer inexoravelmente antes dos 40 anos (é, pois é...).
As duas personagens se abraçam, no meio da lanchonete da escola, a música está de volta à parte mais intensa, corta para a grua, 7 metros de altura e subindo, as duas se abraçando no meio da lanchonete lotada. É o momento em que a música deveria explodir na cena, no último volume antes de cortar para os créditos.
Não é o que acontece. A música continua baixa. O que toma a cena é o som do background, conversas e risadas dos outros alunos.
Simples, lindo.

Um comentário:

  1. Acho que uma das coisas mais prazerosas é quando acontece algo que nos mostra, de um jeito ou de outro, que não estamos no controle. E isso mexe com a gente. E isso faz com que a gente se movimente. E se emocione, para o bem ou para o mal. As cenas que você citou, mostram isso. A quebra de expectativa dá o tom da coisa toda.

    Não vi a série, mas pelo seu relato, as pessoas responsáveis pela direção da série poderiam ter escolhido os caminhos fáceis, aquilo que 'é feito para emocionar', mas escolheram o contrário, o que, efetivamente, fez com que a emoção fosse mais verossímil.

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