sábado, janeiro 30, 2010

Academic Series #6

Resenha do Filme “Deixa Ela Entrar” (Tomas Alfredson, 2008)


Oskar não tem ninguém, sua mãe quase não está presente em sua vida, o pai menos ainda. Na escola, sofre de bullying e apanha constantemente dos colegas. Em casa, de noite, fantasia com o assassinato de seus agressores.
É numa dessas ocasiões que ele conhece a garota. Eli, a única pessoa com quem ele realmente vai se identificar ao longo da história.
Eli é um vampiro, mas isso não é realmente importante para o filme. O filme trata de solidão, de isolamento. O vampirismo é só uma metáfora exacerbada do que Oskar já passa no dia a dia. Daí a identificação dos dois personagens, no fundo eles passam pelos mesmos problemas, ele adolescente, ela vampiro.
Para evidenciar o isolamento o diretor abusa do silêncio e das frias paisagens nevadas da Suécia. Longos, e belos, planos onde só o que se vê é a neve tomando conta de tudo, às vezes com Oskar perdido em meio a isso.
Mesmo a relação entre os dois pequenos adolescentes não se desenvolve por meio de palavras e sim por gestos e ações. O mesmo se dá com toda a narrativa, muito pouco é dito e o espectador tem que ter o trabalho de juntar os acontecimentos e as informações em sua cabeça, sem a usual repetição e reiteração que se costuma ver em outros filmes.
Isso pode deixar alguns meandros da narrativa um pouco confusos para algumas pessoas, mas no fim, deixando alguns pontos em aberto e sem explicação, acaba enriquecendo a história.
Quem é Håkan? Qual a origem de Eli? Qual a natureza da relação entre o pai de Oskar e aquele amigo? Qual o real interesse de Eli em Oskar? Essas questões são deixadas bem mais claras no romance que deu origem ao filme, mas o diretor corretamente optou por deixar isso a cargo do espectador e deixar a narrativa se construir por si só.
Mas a opção mais corajosa está na solução que o filme dá para o isolamento em que os personagens são colocados. Ela não está apenas na união entre os isolados e no apoio mútuo para superarem a situação, o apoio existe, mas a solução reside na vingança e na violência contra aqueles que os colocam naquela situação.
Eli precisa de sangue para sobreviver, essa é a sua condição fisiológica como vampiro e você aceita e compreende suas ações diante disso, mas ao mesmo tempo Oskar também precisa do sangue daqueles que o perseguem e oprimem.
Desde o primeiro momento ela o encoraja a reagir contra os seus molestadores, esse é o principal desejo de Oskar, ele quer sangue. Ela, em determinado momento, confessa que o principal motivo para ter se aproximado dele foi ter identificado em Oskar esse desejo, e quando chega o momento ela toma isso para si.
Se está na natureza dela como vampiro matar para sobreviver, está na natureza de Oskar como ser humano lutar, literalmente, contra aquilo que o exclui da sociedade.
E é disso que o filme trata ao escolher o vampirismo como seu tema e metáfora.

4 comentários:

  1. não me cobre comentários cults ou inteligentes. não sei fazê-los.
    mas eu adorei o filme. tem um monte de sangue, mas eu bem bom.

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  2. Primeiramente, não acredito, mesmo, que você não comentou o significativo título do filme. Pô, uma das coisas mais legais sobre vampiros é o fato de eles não poderem entrar na casa das pessoas sem terem sido convidados. Até aquela novelinha, "O beijo do vampiro", não deixou escapar este detalhe.

    E, também, tem toda a simbologia, de o Oskar deixar a Eli entrar não só na sua casa, mas, também, na sua vida.

    Faltou um comentário sobre este rico título.

    "Eli é um vampiro, mas isso não é realmente importante para o filme. " = Discordo. Você está propondo uma linha de análise que privilegia o subtexto em detrimento do tema, mas dizer que o fato de a Eli ser uma vampira não é importante, é, no mínimo, uma análise distorcida.

    "ele quer sangue." = HAHAHAHAHAHAHHAHAHA Porra, Leonardo! Seu texto é uma resenha, um texto acadêmico. Como você utilizou esta linguagem?

    Enfim, eu gostei do filme. Acho que os efeitos especiais, de modo geral, foram bem ruins. O primeiro ataque da Eli ficou muito mal feito. Tem algumas cenas bem amadoras e tal. Mas é um bom filme.

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  3. Engraçado, só agora percebi que não comentei, no meu post anterior, sobre como a cena da piscina é digna de um MILKSHAKE! Foda!

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