sábado, maio 06, 2006

Fogo

Fogo

O fogo me consome, consome-me até o último pedaço de carne.
Já não sobrou nada de mim além de um amontoado de ossos inúteis, um saco velho apodrecido cheirando a carvão.
Por que não me enterram, então?
Por que ainda ando?
Já não há nada de mim que se faça serventia, me enterrem então. Só assim poderei estar em paz, pois consumido pelas chamas eu só tenho dor.
Por que ainda ando?
Chega! Não quero mais, já basta! Deixem-me deitar.
Por que não descanso?
Por que não descanso, então?
Descanse em paz, é só o que eu quero ouvir, descanse em paz, será que é muito difícil de dizer?
É, eu ainda ando.
Se ainda ando, por que não posso vê-la?
Deixem-me vê-la, seus porcos.
Deixem-me vê-la!
Não, eu não posso, nem por um minuto sequer. Nem um mísero minuto.
Consumido estou, o que posso ter eu a oferecê-la?
Só o fogo me restou, o fogo e o fogo apenas.
Agora, deixem-me queimar em paz ao menos.

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