1999

Quando eu estava na sétima série, agora também conhecida como oitava, do nada, no meio da aula de português, uma aluna começou a cantar "Pais e Filhos" do Legião Urbana em voz alta.
Ao contrário do que poderia se esperar ninguém começou a rir da menina ou esboçou alguma das mais terríveis formas de humilhação pública conhecidas por garotos de treze anos. Para surpresa geral da nação a professora, fã confessa de Legião, começou a acompanha-la e antes do primeiro "É preciso amar..." a sala toda estava cantando também. Depois de terminarmos a música a aula recomeçou.
E essa foi a coisa mais surreal que eu já vi acontecer numa sala de aula.

Foi nesse mesmo ano que eu conheci um dos meus amigos na época. Ele havia entrado na minha turma depois de se transferir do período da tarde simplesmente por ter se apaixonado por uma garota da minha sala ao vê-la nas olimpíadas do colégio no ano anterior.
Para tudo ele tinha uma citação do Legião Urbana, era como um daqueles evangélicos que não importa o que você diga ele te responde com uma citação da bíblia. No caso dele a resposta era Renato Russo.
Eram citações, paródias e referências sem fim mas eu, lerdo como sempre, ainda levei um tempo para efetivamente conhecer Legião.
Eu ignorei o bizarro, o surrealismo e os sinais divinos e resisti à banda.
Ainda assim o meu maior trauma naquele ano foi ter perdido um show dos Engenheiros do Hawaii.

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