Casais de série de tv seguem sempre um padrão. Após
uma ou duas temporadas gerando expectativa eles finalmente ficam juntos.
Então, por uma temporada, o relacionamento dos dois
é tudo aquilo que o público sempre esperou. Até que ao final da temporada os dois
se separam.
(Normalmente, depois que a série é cancelada, nos
últimos 4 ou 5 episódios, constrói-se a volta dos dois para o series finale. O que quase sempre é
artificial e brusco, mas não é isso que eu vou discutir agora.)
São raras as séries que, mesmo que já planejado,
fazem essa separação de forma natural. São quase sempre situações artificiais
gerando conflitos artificiais, em que os personagens agem de forma não
condizente com suas personalidades até então.
Mas algumas séries acertam. E Everwood faz isso de
forma magistral.
Primeiro que o conflito que eventualmente levou ao
rompimento do casal principal foi criado antes mesmo de os dois ficarem juntos.
Isso permitiu que todo o relacionamento dos dois fosse construído de forma que
levasse a isso.
Toda situação foi cuidadosamente desenvolvida, até
que atingisse um ponto de não retorno. O acaso desempenha um papel importante,
mas ele só entra em cena depois que tudo já havia se tornado inevitável.
Outra decisão corajosa da série foi não jogar a
situação toda para o final da temporada, apenas como forma de gerar um gancho
para a próxima. Todo o arco se iniciou no décimo quarto episódio de uma
temporada com vinte e dois (lembrando que tudo, na verdade, começou a metade da
temporada anterior e já vinha sendo desenvolvido). A situação foi construída
com calma, sem que isso parecesse simplesmente jogado na cara do espectador.
Era o destino dos dois chegar até aquela situação,
mas não foi o destino que os separou. Foram as suas próprias escolhas que os
colocaram ali. Infelizmente a discussão “destino versus escolha” foi feita de forma explícita e bastante
simplificada pela trama, seria muito mais rico se eles tivessem optado pela
sutileza e deixado a conclusão para o espectador.
E, finalmente, o conflito não foi a causa final da
separação. Ele não gerou uma discussão que tornou o relacionamento
insustentável. Um não disse coisas horríveis para o outro, magoando-os de forma
irreversível.
Eles se amavam, eles continuaram juntos, eles
tentaram resolver seus problemas. Um confiou no outro, pediu a ajuda.
O que levou ao término foi uma série de quebras, de
confiança, de encanto, que levou os dois a perceberem que já não eram mais os
mesmos.
O que levou ao término foi o desencanto.